domingo, 18 de abril de 2010

A polaridade de Richard Wagner



O mundo das artes é povoado por personalidades bem diferentes daquelas do "mundo mortal". Sim, porque os artistas pertencem a outro mundo, talvez ao Olimpo, não sei. Mas o certo é que conhecendo as obras e a vida pessoal de algumas figuras de sucesso mundial, em qualquer época da história, percebe-se o quão são divindades ou lendas ou puras verdades.

E é nesse encaixe que coloco Richard Wagner. Como ele próprio citou em uma de suas cartas "Se tivéssemos uma verdadeira vida não teríamos necessidade de arte. A arte começa precisamente onde cessa a vida real, onde não há mais nada à nossa frente. Será que a arte não é mais do que uma confissão da nossa impotência?", evidenciando, nas entre linhas, o quanto ele misturou sua realidade ao mundo fantasioso e permissivo das artes.

Richard Wagner foi um expoente em quase todos os gêneros artísticos e não somente na música como mais o conhecemos, mas revelou-se na literatura, na arquitetura, no teatro, na cenografia, e nas artes do relacionamento social como um amante sedutor, um conselheiro político e artístico, além de gostar de boa vida, roupas caras e vida social refinada, frequentando os melhores lugares de sua época.

Com sua enorme criatividade fez várias mudanças e inúmeras inovações para a música, não só em termos de composição mas tambem quanto em termo de orquestração. É de sua idéia alojar a orquestra em um fosso em frente ao palco, para que com isso as vozes dos cantores fossem emitidas diretamente aos ouvintes, sem menhuma barreira. Criou o termo Drama Musical para referir-se à ópera e assim diferenciar-se definitivamente da escola italiana, onde a linha melódica é destinada aos cantores tornando a sua execução mais atraente aos ouvidos dos não especialistas musicais. Já Wagner leva os cantores à exaustão pelos acordes dissonantes e pelos longos trechos cantados. Além disso, utilizou a idéia de identificar um personagem, ou um objeto ou um assunto através de uma linha melódica, a qual chamou de "leitmovit" ou motivo condutor. Desta forma, toda vez que se ouve a linha melódica imediatamente vem à mente o personagem, ou o objeto ou o assunto que o autor deseja indicar. Suas óperas são de caráter oponente com estilo grandioso que influenciaram toda a composição posterior.

Além de músico era um poeta esmerado, tendo escrito todos os libretos de suas óperas, mostrando grande erudição na literatura alemã, tendo oportunidade de reconstruir toda a mitologia germânica.

Ganhou confiança do rei da Baviera, Luís II, que lhe fazia todas as vontades para dar saída as suas idéias musicais e outras, como por exemplo, a de construir um teatro ideal para encenar todas as suas óperas. Ele escolheu o local, planejou arquitetonicamente o teatro, acompanhou a sua construção como um engenheiro oficial, escolheu todos o material artístico para compor o prédio e assim foi construido o teatro de ópera de Bayreuth(Bayreuth Festspielhaus). Ele, mais tarde, admitiu que teve um erro: o local escolhido é muito sujeito à chuva, coisa que ele não queria. Wagner também foi o idealizador de um dos castelos desse rei, aliás lindíssimo que é o Castelo de Neuschwainster), que é famoso porque Walt Disney o tomou como modelo para a Disneyland( O castelo da Cinderela). O grande cineasta Luchino Visconti, lançou o filme baseado na vida deste rei , que se chma "Ludwig" com Romy Schneider Silvana Mangano, Helmut Berger.

O seu relaionamento com o rei da Baviera chegou a suscitar algumas digressões no meio social, tal a forma de amizade que os unia. Basta dizer, que todos os requintes da vida de Wagner eram custeados pela ajuda financeira anual que lhe era reservada dentro do orçamento da realeza. Mas, nem por isso Wagner tinha uma vida com reservas econômicas, pois era perdulário e por várias vezes teve que abandonar o lugar em que vivia por causa dos credores, inclusive teve que sair do país. Gostava de viver no luxo. Já era casado quando teve que mudar de Munique, na Baviera, por causa do seu relacionamento com a esposa do maestro Hans von Bülow, Cosima, que era filha do grande pianista Franz Liszt, que mais tarde tornou-se sua esposa.

Muito estudioso e aplicado aos seus interesses, estudou Beethoven que considerava um mestre e foi o responsável por tirá-lo do esquecimento, quando esqueceram, em 1870, do centenário de Beethoven.

Wagner foi escolhido por Hitler como o compositor ideal da Alemanha, incentivando a audição de suas obras (Wagner morreu em 1883 e portanto já haviam passado mais de 50 anos) . Talvez por isso ele tenha sido classificado como anti-semita, apesar dele ter escrito, numa época de sua vida dedicado inteiramente à política (nessa época até da música ele se afastou, alistando-se para defender os interesses alemães) um artigo que foi publicado falando mal dos judeus e atacando alguns compositores judeus, entre eles Felix Mendelsson e Giacomo Meyerbeer, que eram seus rivais. Entretanto, essas idéias na época eram do próprio povo alemão, ou seja toda Alemanha culpava os judeus pelos prejuizos no seu desenvolvimento econômico. Assim, pois, não se pode provar que ele era anti-semita e as comparações que fazem de seus personagens com estereótipos judaicos são absurdas. São puras interpretações.

Enfim...poderia ser falado muito mais deste grande mestre da música, o qual eu aprendi a amar suas composições como obras divinas, extraídas de uma mente ou de uma inspiração extraordinária, que o fez ficar diferente de tantos outros.

Richard Wagner fez a diferença! E ainda citando sua frase...""no juízo final todos os que comercializem esta arte sublime, pois esses serão condenados."

Levic