quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Woody Allen afinal faz a diferença?



Existem vários diretores americanos que são excelentes em suas obras cinematográficas. Aliás o cinema americano pode ser considerado o maior do mundo, não sempre em qualidade, mas principamente em questões de sucesso comercial, embora eu tire o meu chapéu pelas suas inventivas criações.

Sempre relutei em dar o título de marca de diferença a Woody Allen como um cineasta, mas, no momento da minha vida, ao rever todos os seus filmes, num gesto majestoso de sublimação (entenda-se como a substituição da imediatez do objeto relacional amoroso para a sua transformação numa relação mediata desse objeto), pude alcançar o verdadeiro sentido dos seus filmes, que, nos emblemas filosóficos de cada um, podem ocupar esse lugar no olimpo dos diferentes.

São mais de 40 películas nos seus quase 80 anos de vida destinados ao trabalho da sétima arte, nos quais produziu algumas das mais destacadas obras que podem ser encontradas no universo no cinema. Entretanto, sempre parece que há um texto pré-escrito em seus filmes, pois que a mim surge como sendo um tanto autobiográfico, onde se identifica algumas passagens com as da sua própria vida pessoal, assim como os filmes entre si revelam uma certa repetição, parecendo necessitar revivê-la para uma elaboração no esgotamento de suas emoções, da mesma forma que se identifica o toque de Ingmar Bergman, seu ídolo, na sua fase dramática.

No fundo, acho que Woody Allen, através de suas realizações cinematográficas, faz quase que um laboratório de suas emoções, por onde vem tentando entender o que significa viver num mundo tão controvertido, na contínua reflexão de quais são os desejos mais profundos das pessoas que vivem na nossa época. E as respostas colhidas pelo cineasta parecem dizer que as pessoas querem sucesso, poder e amor numa conjugação de satisfação sexual e amizade reunidas em uma só pessoa, com talvez a dominância do primarismo do sentimento de posse do parceiro, isso mais até do que o cobiçado dinheiro, pois afinal de contas esse é mais fácil para se ter meios de consegui-lo. Ele procura evidenciar a angústia diante da morte, a solidão do casamento desfeito, as recordações saudosistas dos ex-amantes, as paixões efêmeras dos jovens e suas imposições como seres diferenciados da massa adulta desiludida, as fantasias amorosas que sempre ultrapassam a realidade do amor experenciado. Enfim, eu poderia colocar uma infinidade de alusões filosóficas e psicológicas que mesclam dentro de seus diálogos irônicos e nas variadas situações da vida que a humanidade maneja da melhor forma possível. Mas isso não se extinguiria tão facilmente...




Prefiro pois ressaltar que o que torna irresistível ao encanto dos seus filmes, não é a exibição superficial de cultura, nem a filosofia como meio de auto-ajuda que se depreende deles, mas é sim a leveza, a elegância e o convite a um mundo de fantasia, de cores aconchegantes, sempre ao som de bandas dixieland, jazz, spirituals ou clássicos. Assim qualquer época da história explorada se torna uma era dourada.

A composição do inimitável universo Woody Allen, antes de mais nada, é feito de uma curiosíssima conjugação entre uma imaginação e um raciocínio flamejantes, com a inserção da prática da psicanálise, produto de 30 anos de divã e um particular questionamento crítico do mundo enraizado no judaísmo. Desde o início, Woody virou tudo do avesso a partir da palavra, mais do que da imagem. Através do uso da linguagem, explorou o choque entre características e realidades opostas ou discrepantes. Aliás, fez isso consigo mesmo, forjando-se como personagem fisicamente franzino e socialmente inapto, erótico e neurótico, fóbico, mergulhado em vastas referências culturais e cosmopolitas. Nasceu assim um humor depressivo cerebral que, mesmo quando é redundante e repetitivo, não deixa de surpreender.

As qualidades da belíssima fotografia dos filmes, ajudada pelas belezas próprias de cada cidade, talvez apontada como “clichê turístico”, mas afinal, explorando a subjetividade dos personagens, só enriquece os seus projetos e às mais simples alusões a consumos e práticas cotidianas são associadas a referências do domínio da propaganda no mundo atual.

Assim, Woodyy Allen foi desenvolvendo sua filmografia e ele, além de comediante, diretor, roteirista, ator de cinema e escritor de literatura, toca clarinete semanalmente num bar de Nova York. Sua ligação com a música, principalmente com o Jazz, pode ser conferida em todos os seus filmes, dos quais é responsável também pela escolha da trilha sonora.

Então, por que Woody Allen pode ser agraciado como um diretor que fez a diferença dentre tantos diretores americanos, pode ser respondido, que diante de tantas características, sobressai pelo seu estilo prolífico dentro da comédia, de sua análise satírica da vida judaica, pelo fascínio por personagens neuróticos, pela necessidade quase terapêutica de atuar em muitos de seus filmes, pela incansável insistência em temas de amor, romance e vida em família, pela inclusão dos assuntos intelectuais que, por deslocação, acentuam o burlesco e pelos finais felizes ou de 'nonsense' quase pueril. O universo de Woody Allen beira o bizarro, sua maluquice criativa não tem fim.

Entrego-me a dizer que Woody Allen faz a diferença!

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